É
relativamente comum, na esfera pública, o comportamento de pessoas
das mais diversas origens sociais de efetuarem determinada ação
seguida da justificativa “pratico tal ato para cumprir minha
obrigação”. Temos, então, a ideia de que, “cumprida a
obrigação”, cessa toda e qualquer responsabilidade que poderia
decorrer de sua não observância.
O
que tal fenômeno denota é a predominância da chamada “cidadania
social”, em que o exercício da cidadania está quase que única e
exclusivamente relacionado com a noção de direitos e umas poucas
obrigações.
Na
“cidadania social”, as pessoas se vêem, fundamentalmente, como
as destinatárias dos mais diversos tipos de direitos em contexto de
natureza individual (direitos das pessoas individualmente
consideradas, embora direitos coletivos ou indeterminados possam ser
previstos, como o faz o Código de Defesa do Consumidor, mas sempre
sob uma esfera de passividade, pois instituições especificas são
arroladas para suas defesas). Inexiste a ideia de que o pleno
exercício da cidadania envolve o engajamento do sujeito na
construção permanente do espaço público e que a vida não pode
ser concebida como constituida de atos desconectados mas, pelo
contrário, é um processo em contínuo desenvolvimento e que cada
ação é parte do objetivo maior de construção de uma existência
digna e socialmente produtiva.
A
consequência da hegemonia da “cidadania social” sobre as esferas
política e cívica é a predominância do imobilismo público,
alimentado pelo assistencialismo e clientelismo, como percebido na
sociedade brasileira. Individualmente, escolhas e preferências
decorrem de impulsos, raramente articuladas e sistematizadas visando
um objetivo maior. Em termos singelos, “não se vive a vida”, mas
passa-se pela vida ao sabor dos acontecimentos”.
Ocorre
que a contemporaneidade exige novos padrões de convivência social.
Atitudes ativas e forjadas na disciplina, geração de “projetos
de vida” com objetivos claros em termos profissionais e
responsabilidade individual indissoluvelmente conectada à social são apenas alguns dos
conceitos exigidos. Felizmente, alguns percebem tais necessidades para construção da cidadania sob ótica cívica,
como extraído de declarações dos responsáveis pelas melhores
escolas brasileiras no ENEM 2010. Argumentar
anacronismo dos métodos de ensinos ou criticar os valores elevados
das mensalidades de algumas dessas escolas revelam apenas pobreza no
debate. Pelo contrário, a concepção de “agentes morais”, como
defendido na Europa e EUA (relações sujeito-sujeito na constituição do espaço público em detrimento de relações sujeito-Estado), requer exatamente o tipo de formação
oferecido por essas escolas e que deveriam representar o padrão
educacional da escola pública brasileira. Por que, não
colocado no debate até o momento, a escola pública, com honrosas exceções, não ofecere educação com qualidade, é custeada com
impostos de toda a população brasileira, que não tem como escolher
não pagá-los, e, pela qualidade da educação oferecida, ofende moralmente àqueles com um mínimo de espírito crítico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário