Palestra proferida na Câmara Municipal de Rosário do Sul - RS

Download da palestra proferida em 28/10 na Câmara Municipal de Rosário do do Sul - RS com o título "Como é possível que crianças, que representam o futuro do Brasil, busquem a satisfação de suas necessidades no lixão público?".

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Educação e sorte social

Encontra-se em andamento o programa “Ciência sem fronteiras”, com meta de capacitar em educação de alta qualidade 75.000 acadêmicos no prazo de quatro anos (http://www.mct.gov.br/upd_blob/0217/217221.pdf). As áreas prioritárias para o programa são as de natureza técnica, entre elas engenharia, computação e sistemas de informação.

Não restam dúvidas sobre a importância do programa na medida em que seu objetivo centra-se no incremento do desenvolvimento econômico baseado na tecnologia, na inovação e na competitividade. Mas algumas críticas mais abrangentes sobre a política educacional brasileira podem e merecem ser tecidas.

Antes, porém, é necessário a explicitação da expressão "qualidade da educação". De acordo com a Unesco (The Quality Imperativehttp://www.unesco.org/education/gmr_download/en_summary.pdf), dois princípios definem o que seja qualidade em educação.

Um deles se refere ao desenvolvimento das capacidades cognitivas como dado objetivo (mensurável) em todos os níveis do sistema educacional. Capacidade cognitiva envolve a representação adequada do que seja o mundo expressa nas identificação e interrelação de seus fenômenos.

O outro princípio enfatiza o papel da educação na promoção de valores e atitudes na realização da cidadania, do potencial criativo e do equilíbrio emocional.

Para que a qualidade em educação seja concreta, alguns pre-requisitos se apresentam, com o primeito deles centrado na educação e cuidados na infância. A ausência de cuidados aumenta as possibilidades de exclusão social e econômica das crianças que não tiveram oportunidades de frequentar programas adequados.

Aqui se insere a crítica antes mencionada: “Ciência sem fronteiras” foca a educação, primariamente, como compromisso econômico em detrimento do social. Aumento de oportunidades econômicas não é sinônimo de melhoria nos padrões de bem-estar sociais das comunidades (o seguinte endereço contém exemplos ilustrativos: http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/0892/noticias/veja-como-as-cidades-brasileiras-investem-os-royalties-do-petroleo-m0128066).

A maneira adequada encontra-se em abordagens que privilegiem o equilíbrio econômico-social das metas educacionais. Conjuntamente com a realização do programa, deveriam ser feitos expressivos investimentos na implementação de creches de qualidade e nos ensinos fundamental e básico.

Considerado direito básico pela Constituição de 1988 (art. 7°, XXV; art. 208, IV), o total de matriculados em creches no Brasil atinge menos de 17% das crianças na faixa etária 0 - 3 anos de idade (estudo abrangente encontra-se no endereço http://www.todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/noticias/12891/brasil-deve-triplicar-numero-de-matriculas-em-creches-para-atingir-meta-do-pne).

Sem preocupações com os estágios fundamentais de formação dos futuros participantes, programas como o “Ciência sem fronteiras” parecem depender, basicamente:

1) da sorte social, no caso do participante pertencer aos níveis economicamente menos favorecidos da sociedade, pois a ocorrência das condições adequadas para seu desenvolvimento intelectual é contingente; ou

2) de o participante provir das camadas economicamente aptas a propiciarem educação adequada aos seus membros.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Hábitos & Rotinas

Algumas pessoas criam hábitos profissionais de tal forma arraigados que se sentem angustiadas quando tais rotinas são quebradas e elas ficam, momentaneamente, ociosas. Raramente, essas pessoas julgam tais momentos como oportunidades valiosas para a formação educacional continuada, ausentes de pressões e, muitas vezes, dependentes apenas do esforço pessoal.




Alguns exemplos se encontram a seguir, disponíveis de modo gratuíto (e legal) na web:

1) Freemind: software para modelagem e planejamento gráfico de, praticamente, qualquer tarefa que alguém se proponha a realizar. A partir de um núcleo, o software permite a criação de ramificações indicativas dos passos sequenciais ou hierárquicos a serem seguidos.
Disponível em versão em português.

2) Virtualização: permite a criação de diversos computadores virtuais independentes em um mesmo computador físico. Serve aos mais diferentes propósitos:
a - aprendizagem: alguém usuário do windows pode criar um computador virtual para aprender linux, por exemplo;
b - segurança: pode-se configurar um computador para uso restrito, como acesso à conta bancário e informações privilegiadas, e outro para uso geral, como e-mails e visitas a sites, evitando os perigos de roubo de senhas via web (sites visitados pela primeira vez (e talvez não seguros) ou mensagens falsas por e-mail);
c - ferramenta de trabalho: máquinas virtuais são transportáveis de um computador para outro e se adaptam facilmente a diferentes configurações de hardware.
Disponível em versão em português.
Endereço: www.virtualbox.org.

3) Acesso remoto: O logemin é um software que permite, de modo seguro por intermédio de senhas, o acesso entre computadores remotos. Para tanto, requer sua instalação no computador remoto e, de qualquer local, via web, pode ser controlado. Possui versões gratuita e paga, com a gratuita plenamente funcional.
Disponível em versão em português.
Endereço: www.logmein.com

4) Desenvolvimento de páginas web: Netobjects fusion essentials é um software para planejamento e desenvolvimento rápido de páginas web, o que não significa ausência de “look” profissional. Não requer conhecimento prévio de nenhum tipo de linguagem, como html, por exemplo, e permite especificações de características avançadas, como “headers” para mecanismos de buscas.
Disponível em inglês.

Uma outra maneira especialmente rica para o desenvolvimento intelectual de qualquer pessoa, mesmo que em eventuais horários vagos, é a leitura. Temas como moral, ética, história social brasileira e crítica literária, apesar de pouco valorizados entre nós, podem ser interessantes e mudar os rumos de vida do leitor.

terça-feira, 26 de julho de 2011

A função social da baixa educação

Desde o momento do nascimento começamos a sofrer transformações induzidas pelo mundo externo. Por intermédio dos órgãos sensoriais sentimos quando está frio ou quente e aprendemos a procurar uma situação de equilíbrio. Aprendemos a andar e a falar, e desenvolvemos gradativamente, em maior ou menor grau, a capacidade de raciocínio abstrato como modo de representação do mundo.


Fato que merece destaque nesse processo de formação de uma consciência individual é que os estímulos que desencadeiam os aprendizados originam-se na necessidade de suprir uma falta de habilidade específica e na busca de equilíbrio.  Aprendemos a andar porque ainda não possuímos tal capacidade, o mesmo ocorrendo com o falar. No frio, procuramos proteção de um agasalho porque nosso corpo não consegue produzir o calor adequado para nos manter suficientemente aquecidos.

O aprendizado é de fundamental importância no processo porque representa, em face da solução, uma adaptação e transformação da capacidade intelectiva. Uma vez que o sujeito aprenda a falar, não retornará mais ao estado pré-fala.

Talvez pareçam óbvias demais essa afirmações, mas existem situações análogas em que não são, em absoluto, percebidas. Antes, porém, torna-se necessário um outro esclarecimento: sobre a natureza do equilíbrio antes mencionado. Equilíbrio em relação ao quê? Equilíbrio em relação às habilidades de outros sujeitos com quem a pessoa convive. No momento que esta atinge patamar semelhante de desenvolvimento, a tendência é a manutenção do equilíbrio e a necessidade de aumento da habilidade perde importância.

Agora a razão porque a transformação decorrente do aprendizado não é tão óbvia quanto parece.

Em um país com a expressão das desigualdades sociais como o Brasil, a lógica do aprendizado em busca do equilíbrio deveria apontar para a contínua transformação intelectiva dos que se encontram em estágios menos desenvolvidos no caminho dos estágios mais desenvolvidos de bem estar social. Mas o cotidiano mostra que tal não acontece. Porquê? Por que o atraso, a ignorância e o subdesenvolvimento exercem diversas funções sociais, fenômeno que não muda muito no transcorrer do tempo. 

Em 08/10/2003, com base em publicação do Banco Mundial, o jornal Folha de São Paulo (“ NE prefere trabalhador sem estudo”) denunciava que Estados e empresas do nordeste preferiam e estimulavam a contratação de empregados menos educados como constituição de uma força de trabalho “menos dócil, menos móvel e com menos aspirações”. Em outro artigo, “Os negócios da elite e o medo da educação”, e com autoria atribuída ao Banco Mundial (publicado na mesma data pelo mesmo jornal), consta que a “elite modernizante” no Nordeste preferia contratar pessoas com apenas o ensino primário. Os governantes nordestinos, diz o estudo, “apoiam a estratégia das empresas” ofertando subsídios para treinamento e estimulando a retórica de que seus Estados têm mão de obra competitiva em relação a outras economias emergentes. “Antigos fatores que levam à iniquidade social são impressionantemente adaptáveis” aos governos “democráticos”. “A educação primária oferece o básico para que esses trabalhadores, com um pouco de treinamento, se tornem competitivos em relação a regiões nas quais os salários para as mesmas funções são significativamente mais altos”.

Qual a saída para essa manipulação social? Talvez a mais premente seja a luta contra a cidadania tutelada, expressão que, em si mesma, representa um paradoxo. Se cidadania é, em primeiro lugar, assumir autonomia de pensamento e ação, a partir do momento em que é tutelada deixa de ser cidadania e passa a ser dominação, com a transmutação do cidadão em súdito.

Em alguns casos, a melhor forma de enfrentamento é pela participação ativa via ação individual focada na mudança social. Começar a mudança por si mesmo, forjando uma personalidade que entenda e valorize a vida em sociedade (o exemplo próprio é a melhor das forma de expressão de opinião). As oportunidades, em sociedades apoiadas na tecnologia da informação como está se transformando o Brasil, existem e estão disponíveis para todos.

domingo, 24 de julho de 2011

Moral & Ética

Praticamente qualquer pessoa tem uma noção matemática dos números e suas aplicações elementares, como somar os valores de produtos comprados e pagar o montante devido. Mas se essa mesma pessoa for perguntada sobre a definição do que seja número, dificilmente responderá, a menos que tenha uma formação razoavelmente sólida em matemática, já que deverá conhecer a teoria dos conjuntos e lógica. Isso sem mencionar o fato de que somente no final do século XIX, com Gottlob Frege (Os Fundamentos da Aritmética, tradução para o português de Luís Henrique dos Santos), se chegou a uma definição formal de número.




O domínio do que seja a moral e a ética encontra analogia com o do conhecimento sobre números. Nos valemos cotidianamente de conceitos derivados da filosofia moral e de princípios éticos, mas não sabemos defini-los com clareza e precisão. Argumentar que o termo ética deriva do grego e que foi inicialmente abordado de forma sistemática por Aristóteles, enquanto moral tem sua raiz no latim “mores” e significa costume, não esclarece muita coisa.

Existem diversas concepções de filosofias morais, como o utilitarismo e o intuicionismo, e práticas éticas estão intimamente associadas com cada uma dessa filosofias na medida em que elas lhes fornecem as justificativas apropriadas. Embora a filosofia moral tenha por objeto primeiro a busca da distinção entre o que seja o certo e o errado, tal somente é possível no contexto de um ideal de homem e de sociedade. Como existem ideais diferentes, também existem concepções morais diversas.

As grandes concepções morais do presente foram germinadas a partir do movimento Iluminista Europeu, com o deslocamento da responsabilidade das justificativas dos atos humanos de Deus para o homem. O germe para tais concepções localiza-se, indubitavelmente, mais longinquamente no tempo, em Thomas Hobbes e seu Leviatã (1651), que rompeu definitivamente com as concepções aristotélicas de natureza humana. Entre elas estão o utilitarismo (Jeremy Bentham e John Stuart Mills), a Deontologia (Kant), a Teoria do Comando Divino, o Individualismo possessivo, fundamento da racionalidade econômica e a Justiça como equidade (John Rawls – A Theory of Justice (1971)).

Qualquer concepção moral, de acordo com Ashley Mackenzie, se divide em três ramos: ética aplicada, ética normativa e ética analítica.

A ética aplicada questiona o sujeito em cada situação sobre o que é certo ou errado fazer.

A ética normativa considera três razões das escolhas: a ação, a pessoa que a executa e as consequências advindas. Se o foco é na ação (deontologia), algumas são valoradas como essencialmente positivas e outras como negativas, independente de quem as pratica, como, por exemplo, práticas cruéis (eminentemente negativas). Se o foco é na pessoa, entramos na seara das virtudes pessoais, como a solidariedade social. Se o foco é nas consequências, então apenas os resultados das ações são valoradas. O exemplo clássico encontra-se no pensamento do sociólogo alemão Max Weber, que, em termos políticos, definiu os termos ética da responsabilidade e ética da convicção. A ética da responsabilidade é eminentemente consequencialista, enquanto a ética da convicção abarca as virtudes. Outro exemplo de ética normativa encontra-se nos códigos de condutas das profissões.

A ética analítica debate os conteúdos e justificativas dos discursos morais.

A filosofia moral não pode ser confundidos com os costumes transmitidos pela tradição, embora estes possam ser classificados como sentimentos morais. Costumes são práticas sociais estabelecidas pela repetição constante de comportamentos, muitos de forma acrítica. A filosofia moral exige posicionamento crítico, justificativa de proposições e ordenamento lógico sistemático de suas partes.

Um excelente livro que aborda a moralidade pública no Brasil é o de autoria de Edson de Oliveira Nunes - A gramática política do Brasil. A edição original publicada pela Zahar (1997) está esgotada, mas uma nova edição foi lançada em 2010 pela Garamond.

Nunes identifica quatro padrões que norteiam o relacionamento entre sociedade civil e esfera pública: o clientelismo, o corporativismo, o insulamento burocrático e o universalismo de procedimentos. Embora o período analisado compreenda os anos 1930-60, parece que as práticas institucionais em nada se alteraram.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Simbioses entre arcaico e moderno

Duas produções acadêmicas recentes, respectivamente sobre os desenvolvimentos administrativo e tecnológico contemporâneos brasileiro, merecem destaque.

A primeira, de autoria de Fabio Vizeu, Rural Heritage of early Brazilian Industrialists: its Impact on Managerial Orientation foca os impactos do modelo econômico colonial ainda hoje presentes na organização administrativa brasileira. Esse modelo, de natureza patriarcal (patrimonialismo), se apoia em dois eixos, quais sejam:

a) o protecionismo de uma elite econômica baseado em privilégios e na influência política;

b) a subordinação da autoridade formal e da competência técnica gerencial aos laços familiares e à lealdade pessoal.

A lógica do patrimonialismo se contrapõe frontalmente ao modelo gerencial desenvolvido nos países centrais da economia capitalista industrial, fundado na racionalidade instrumental. De acordo com Vizeu, esse é um dos motivos que explicam o atraso da modernização econômica do Brasil em relação àqueles países. Até hoje, não conseguimos atingir os mesmos patamares de desenvolvimentos político, social e econômico por que não superamos, em nossos comportamentos, a herança do patrimonialismo: apenas mesclamos o arcaico com o moderno.



A segunda produção, editada pelos professores da Universidade Federal de São Carlos Estevam Rafael Hruschka Jr. e Maria do Carmo Nicoletti, além de Junzo Wataba, contém artigos apresentados na 1ª Conferência Internacional em Tecnologia Computacional Integrada (INTECH 2011), organizada pela UFSCar no período 31/05-02/06/2011.

A responsável pela publicação é editora alemã Springer, sob o título “Integrated Computer Technology”, número 165 da coleção “Communications in Computer and Information Science”.

Material protegido por Copyright

Dos 14 artigos que compõem o livro, 6 são de pesquisadores brasileiros e representam UFSCar, USP e UFG (Universidade Federal de Goiás).

De certa forma, o livro da Springer corrobora os argumentos defendidos por Vizeu. A pesquisa em computação teórica e aplicada caracteriza-se como “estado-de-arte” na modelagem de um mundo eminentemente humano, separado do mundo natural, e fundado no desenvolvimento tecnológico. É o símbolo por excelência da racionalidade instrumental da modernidade. Mas o Brasil também convive com o atrasado e obtuso presentes na corrupção pública extremada (ver reportagens de capa do jornal O Globo de 19 e 20/07- A tragédia da corrupção). Estes são símbolos por excelência do patrimonialismo e do clientelismo: em resumo, nosso passado-presente arcaico colonial.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Planejando atividades empreendedoras

Deve-se ao poeta libanês americano Khalil Gibran (1883-1931) a síntese do que se pode considerar a lógica da racionalidade humana na procura pela existência digna. Esta, em última instância, se opõe à vida derivada primordialmente de instintos naturais e submetida a toda espécie de contingências.

A síntese mencionada se encontra na base de qualquer ação humana e pode ser encontrada mediante perguntas e respostas satisfatórias elaboradas pela mesma pessoa. Compreende respostas para as questões “o quê?”, “quem?”, “onde?”, “como?”, “quando?”, e “por que?”.
As respostas obtidas são adequadas por que ausentes de conflitos psicológicos para quem as formula e, de alguma forma, aumentam seu nível de satisfação da vida.

Como exemplo prático, tomemos o caso de uma pessoa qualquer que deseje iniciar-se como empreendedor. É importante, entretanto, destacar que o exemplo refere-se ao ambiente profissional apenas por este ser componente privilegiado da vida contemporânea. Já o empreendedorismo firma-se, cada vez mais, como paradigma para atividade laboral sustentável porque baseado na autonomia individual.

Os princípios gerais de qualquer atividade negocial repousam na habilidade comercial e na inovação, na melhoria nos padrões dos produtos ou serviços prestados, no gerenciamento das mudanças, na manutenção da qualidade e estabilidade do negócio e na racionalização dos custos.


As perguntas a serem formuladas podem ser estabelecidas nos seguintes termos:


1) O quê, especificamente, será o produto ou serviço ofertado e qual seu diferencial em relação à concorrência? Que recursos estão disponíveis ou são necessários?

2) Quem será o público-alvo? Quem serão os colaboradores e quais os perfis desejados de tais pessoas?

3) Onde se localiza o público-alvo para o qual a atividade negocial está sendo planejada? Onde encontrar os colaborados ou parceiros necessários para concretizar a atividade?


4) Como se iniciar na atividade proposta? Como alcançar o público-alvo e argumentar que seu produto ou serviço é mais adequado do que o de seu concorrente, merecendo, por isso, ser adquirido? Como motivar seus colaboradores ou parceiros comerciais para que atinjam os melhores desempenhos possíveis?

5) Quando sair do plano imaginativo e iniciar ações para concretizar suas metas ou, em outras palavras, quando você estará pronto para lutar por seus objetivos? Quando você imagina poder afirmar que sua iniciativa é um sucesso?


E agora, talvez, a questão que, sob ponto de vista pessoal, fornece a motivação para as anteriores:

6) Por que você está se lançando neste empreendimento? Por que ele é importante para você? Por que tem sentido e pode se manter relevante durante sua vida laboral?

domingo, 17 de julho de 2011

O conhecimento tecnológico mudando a noção de pessoa

É relativamente comum a crença de que o modo de ser de cada pessoa (sua “razão”) já está definida quando de seu nascimento e que as experiências e conhecimentos adquiridos ao longo da vida não se confundem com seu verdadeiro “eu”. Formas diferentes de analisar a questão, ou formação da identidade, se encontram em Norberto Elias (Sociedade de Indivíduos, Zahar) e Charles Taylor (As Fontes do Self, Loyola).

Na ciência da computação, mais especificamente no ramo da Inteligência Artificial, termos como mente, cérebro e cognição adquirem forte relevância na medida em que o conhecimento de seus princípios de funcionamento permitem o desenvolvimento de novas tecnologias que alteram de forma dramática nossa concepção do que seja a realidade. A noção de mundo se afasta da concepção tradicional de mundo natural em direção a de mundo imaginado, virtual. Simultaneamente, aqueles conceitos inicialmente citados neste “post” e arraigados na crença popular sobre o “eu” (e derivados do dualismo cartesiano corpo-alma) são substituídos por novas concepções sobre a pessoa humana. Talvez a mais importante seja a representação da realidade como derivada do funcionamento mental, em que o sujeito não é algo pronto, dado e acabado, mas processo em constante transformação decorrente da ação no “mundo da vida”.

Enquanto processo, o sujeito de hoje não é o mesmo de, por exemplo, 10 anos atrás. Vontade, observação, sensação, imaginação, atividade intelectual, autoconhecimento e disposição para assumir riscos, resumidos nas expressões “autonomia intelectual” e “imaginação criativa” são os elementos que governam o desenvolvimento de tal processo. Em termos mundanos, cada sujeito se reflete no seu “perfil”, aliás, termo bastante empregado em recursos humanos.

Na educação, e principalmente no Brasil, as novas concepções sobre o que seja o ser humano apontam para a necessidade de valorização da formação básica da pessoa. Hoje, a grande ênfase é colocada na educação eminentemente técnica, voltada essencialmente para a produção (basta observar a enorme expansão das oportunidades de frequências nos cursos de graduação). Os ciclos fundamental e médio de ensino nenhuma, ou quase nenhuma, atenção despertam. Principalmente, disciplinas da área de humanidades capazes de despertar o espírito crítico, como lógica, filosofia, sociologia e desenho, requerem sua reintegração nos currículos escolares.

Em tempo: Para uma melhor compreensão do que seja a ciência da mente, ver “The Concept of Mind”, de Gilbert Ryle (várias edições), e “The New Science of Mind” de Mark Rowlands (The MIT Press). Em português, existe o excelente livro de Jerone S. Bruner “Realidade Mental, Mundos Possíveis" (Artmed).
Sobre a citação de desenho como disciplina essencial na formação do sujeito, você conhece melhor técnica para desenvolvimento da capacidade espacial, de reconhecimento das formas e do raciocínio abstrato de uma criança?

sexta-feira, 15 de julho de 2011

"Copyright" e "Right to copy"

Uma prática relativamente difundida na comunidade acadêmica internacional é a publicação de livros científicos e técnicos no modelo “open source”. O incentivo a esse modelo repousa na disseminação de conhecimentos sem barreiras e na combinação da forma tradicional de publicação (copyright) com os novos meios tecnológicos que permitem publicações com sensíveis reduções de custos (instituições bancam os custos de produção em troca de visibilidade). Tanto a instituição de origem do autor quanto este se beneficiam da livre disseminação de suas produções (até então inéditas) para as mais diversas audiências e em termos globais.


Exemplos de casas publicadoras que adotam o “open source” e primam pela qualidade de seus livros são a re-press nas áreas de filosofia, poesia e ficção, e a InTech, na área de livros técnico-científicos, inclusive TI. Alguns portais também se dedicam à divulgação de livros originais para download gratuito e de forma legal.

As obras constantes dos catálogos ora citados são em língua inglesa, condição que dificulta o acesso pelos leitores médios brasileiros. Em contrapartida, universidades brasileiras, como, por exemplo, USP, Unicamp, Unesp e FGV, disponibilizam o acesso gratuito às teses escritas e defendidas por seus estudantes (considero o portal da USP, pelo formato organizacional que prima pelo fácil acesso aos títulos disponíveis, como paradigma de difusão de trabalhos acadêmicos no Brasil).

Especificamente na área de livros, os seguintes portais merecem destaque:


biblioteca digital sobre assuntos brasileiros;


biblioteca digital sobre assuntos diversos apoiada pela Unesp;


biblioteca digital com obras esgotados sobre o passado social e político do Brasil.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Empreendedorismo na web

Em 2006, Yochai Benkler, professor de estudos empresariais da Escola de Direito da Universidade de Harvard (Estados Unidos), lançou o livro “A riqueza das redes: como a produção social transforma os mercados e a liberdade” (disponível para download, em inglês, em www.benkler.org). Nele, o autor defende de forma ardorosa as possibilidades de livre iniciativa e desenvolvimento social no ambiente web mediado pela internet. Aqui, o capital verdadeiramente importante é o conhecimento aliado à iniciativa empreendedora em detrimento do capital econômico e sem considerações por raça, sexo, religião ou ideal político.
Infelizmente, no Brasil engatinhamos na questão do empreendedorismo, entendido como ações inovadoras privadas aptas para geração de renda e ascensão social. Mas existem oportunidades que merecem destaques. Uma delas, formadora do espírito empreendedor, é o curso de graduação a distância mantido pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) na área de sistemas de informação (http://betara.ufscar.br:8080/uab/si) e ofertado em diversas cidades paulistas. Gratuito e com ingresso mediante vestibular, a grade curricular do curso equipara-se com as propostas na forma presencial por outras instituições tradicionais, como USP e UFMG.
O diferencial entre um curso a distância e um presencial está na possibilidade de, no primeiro, o estudante articular o tempo de estudo com o de trabalho e outras atividades do modo que melhor lhe convir. Via de regra, os trabalhos presenciais, como provas, são efetuados aos sábados e/ ou domingos, com a maioria das atividades realizadas por intermédio de uma plataforma apoiada na internet (no caso da UFSCar, o Moodle). Por outro lado, o nível de participação do aluno é mais exigente do que no presencial: requisitos como autodisciplina e dedicação aos estudos despenham papel preponderante. Entretanto, tais requisitos em nada diferem dos requeridos como integrantes dos perfis das pessoas que aceitam os desafios do empreendedorismo econômico.

Em tempo: para quem desconhece as diferenças entre as diversas formações na área de TI, como ciência da computação, engenharia da computação e sistemas de informação, esclarecedor texto sobre o assunto é a reflexão “Por um referencial na formação profissional em Sistemas de Informação”, disponível em

terça-feira, 12 de julho de 2011

Imprecisões conceituais e dificuldades de comparações salariais


Se você realizar uma pesquisa sobre salários em TI em jornais ou na internet se deparará com dois problemas:

1º) existe uma infinidade de denominações para funções em TI que, muitas vezes, parecem se sobrepor como, por exemplo, analista de projetos de sistemas e analista de sistemas. Qual a especificação de cada uma e onde se encontra essa especificação?

Na pesquisa de onde foram tirados esses títulos, a diferença salarial entre ambos beira 28% (R$ 3.713,00 e R$ 4.761,00 respectivamente).

A impressão é a de cada organização criar uma denominação para funções em TI própria para seu uso, sem qualquer espécie de normatização externa. Por outro lado, os meios de comunicação que divulgam as pesquisas simplesmente reproduzem as nomenclaturas sem nenhum posicionamento crítico como, por exemplo, as descrições das atribuições englobadas por cada título. O Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de dados e Tecnologia da Informação do Estado de São Paulo estabelece, em nível técnico, quatro funções ou atividades: administrativo, digitador, técnico em informática e técnico de suporte de help desk.

2º) devido à disparidade de nomenclaturas e à não especificação das atribuições de cada uma, fica extremamente difícil a comparação entre salários, pois funções aparentemente sobrepostas apresentam significativas diferenças salariais. Além disso, você não consegue identificar qual o porte da organização ou organizações que pagam determinado nível salarial. Provavelmente, uma empresa que pague um salário em torno de R$ 5.000,00, como é o caso da função de analista de sistemas acima citada, deve se situar na faixa de médio para grande porte.

No Brasil, e em São Paulo particularmente, que é o local de referência aqui abordado, a maioria das empresas são de pequeno para médio porte e, dificilmente, atingem os níveis salariais mostrados na pesquisa ( o salário nominal base para técnico de informática, de acordo com o Sindpd, é de R$ 910,00 (cláusula 3ª da convenção coletiva de 2010)).

Em resumo, pesquisas claras e precisas, que forneçam informações objetivas, não são facilmente encontradas, fato que apenas beneficiam os empregadores (pela imprecisão conceitual que causam entre os profissionais e pela dificuldade de comparações salariais entre organizações) e os milhares de cursos que vendem (caro) treinamentos em TI.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Banda larga, bytes & bits

Uma confusão frequente e que me parece causada por empresas que comercializam acesso à internet reside na falta de clara especificação da medida utilizada em seus produtos. A taxa de transferência de dados é medida em megabits por segundos (Mbps), enquanto a capacidade de um disco rígido ou pente de memória, por exemplo, é medido em megabytes de armazenamento (MB). O que as empresas utilizam em suas propagandas? Simplesmente o termo MEGA, valendo-se do fato que o senso comum está acostumado com a medida megabytes. Não deixam claro se estão se referindo a bits ou bytes. Como 1 Byte = 8 bits, uma prestação de serviços em banda larga que fixe a velocidade de transferência em 2 Mbps na verdade vende 256 KBytes por segundo ( 2 * 1024 / 8, pois 1 megabyte é igual a 1024 kbytes e 8 é o número de bits em cadas byte).